Descaso

Mais de duas semanas depois do ciclone, falta de energia continua na região

Moradores apontam descaso da concessionária, enquanto agências reguladoras anunciam fiscalização imediata dos serviços prestados

Foto: Jô Folha - DP - Famílias que moram em localidades do interior seguem às escuras

Descaso. É assim que o administrador de redes Leonel Nunes, 58, define a situação que vive em sua casa, no Município de Morro Redondo. Há 16 dias sem energia elétrica por conta da passagem do ciclone pela região, ele conta que, diariamente, vai até a CEEE Equatorial em busca de soluções. Todo dia, como foi na quinta-feira (27), recebe a mesma promessa de resolução do problema, que nunca é cumprida.

Na residência, localizada na zona rural de Morro Redondo, cerca de 1,8 km da rótula de entrada, os quatro moradores tentam conviver com a precariedade. "Estamos carregando água da cidade para cá, juntando água da chuva para usar no vaso sanitário, comprando gelo, se virando sem recurso nenhum", lamenta. Nesta quinta, um carro da CEEE Equatorial, que estava na região para atender um vizinho, conversou com o homem e constatou que o fusível do poste está queimado, problema que já vinha sendo alertado por Nunes há dias. A equipe, que não tinha material para resolver o problema, garantiu que o caminhão iria na residência até às 18h - promessa que o morador já não acredita mais. "É um descaso total. Já dei a coordenada do poste, o defeito que tem, tudo. Eles tinham tudo para resolver no primeiro dia, mas não vieram. Esse é um problema recorrente da CEEE Equatorial aqui para nós. Em outro temporal, caiu um poste e eles demoraram 14 dias para trocar", relembra.

Na Capela da Buena, também no Município de Morro Redondo, a comunidade teve a energia restabelecida cerca de sete dias após o ciclone, mas convive com a falta d'água até hoje por conta de um transformador estragado no poço que abastece as casas. "Todo mundo aqui tá sem água. Estamos nos virando com ajuda, carregando água em galão, mas nem para o banho tem [o suficiente]", relata o morador Jair Moraes.

Outras localidades

No Cassino, a oceanóloga Liane Dias teve a luz restabelecida na noite de quarta, 14 dias após a passagem do ciclone. Segundo ela, a situação foi resolvida pela Prefeitura de Rio Grande e o problema estava na ligação do poste da rua ao poste da residência. "Todos esses 15 dias eu tentei falar com a CEEE. Fui lá, liguei e fiz tudo. Na quarta-feira (26) eu entrei com queixa no Ministério Público, reclamação no Procon e procurei vereadores. Foi quando resolveu. A pessoa precisa fazer um escândalo", lamenta. Liane declara, ainda, que vai continuar com a reclamação no MP e também com processo de danos morais contra a concessionária.

Em outros Municípios, como São Lourenço do Sul e Cerrito, também persistem relatos de falta de luz. "Hoje [quinta-feira (27)] ainda tinha seis unidades sem energia desde o temporal e mais umas quantas que tinham retornado, mas estão desde terça sem luz novamente", revela o prefeito de Cerrito, Douglas Silveira (PP). As residências sem luz estão localizadas nas comunidades de Passo do Santana e Alto Alegre. Em São Lourenço, o prefeito Rudinei Härter (PDT) também confirmou que ainda há moradores sem energia no interior do Município. "Hoje [quinta] de tarde, mesmo, tinha três caminhões arrumando algo que devia ter sido arrumado com urgência, que era um fio energizado quase no chão. Ficou todos esses dias com uma sacola amarrada", relata. Segundo ele, apesar dos problemas, os casos são muito isolados e estão sendo normalizados.

Agências em alerta
Nesta semana, a Agergs, agência reguladora dos serviços públicos do Estado, e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estiveram reunidas para discutir a fiscalização dos serviços prestados pela CEEE Equatorial no Estado. A ação de fiscalização imediata, indicada pela Agergs e acolhida pela Aneel, ocorrerá por conta da contínua qualidade precária do serviço prestado pela empresa, tendo em vista que ações fiscalizadoras anteriores não foram suficientes para alterar a conduta da empresa.

Segundo a Agergs, essa fiscalização deve apurar violações contratuais, regulatórias e legais, que serão apontadas em um relatório. Depois de notificada, a empresa poderá apresentar suas manifestações. Com base nestes documentos, a agência estadual decidirá quanto à aplicação de novas multas à Concessionária. Em 2022, a CEEE Equatorial já havia sido multada em mais de R$ 29 milhões por não ter cumprido parâmetros exigidos no contrato de concessão.

Até o fechamento da edição, a CEEE Equatorial não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a falta de energia que ainda persiste na região.

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